terça-feira, 18 de outubro de 2011

Características de Guimarães Rosa

João Guimarães Rosa é um dos autores de ficção experimental da prosa da terceira geração do modernismo,caracterizada pela experimentação poética que abandona as características da poesia de 22 como o humor na poesia,para migrar para uma poesia de perfeição da forma,justificada pela simetria dos versos e do uso de neologismos como os de Rosa. É geração que apesar de ser modernista,pode ser chamada de neoparnasiana,que objetivava a construção de um poema sério e equilibrado.
A obra de Rosa é extremamente inovadora e original. Havia o uso do neologismos em suas obras(a arte de inventar palavras) que o autor utilizava em seu regionalismo,onde descrevia o sertão mineiro representado principalmente pelos jagunços(bandos de soldados,como os cangaceiros na Região Nordeste),saindo da linguagem inteiramente cotidiana e do sertão ‘’superficial’’(as particularidades e cotidiano de povo),para uma linguagem nutrida pela fusão da erudição,da formalidade(neologismos) com a linguagem popular,modificando radicalmente o regionalismo na literatura.
O regionalismo de Rosa pode ser classificado como universal pois sertão rosiano não é apenas um simples sertão. O sertão rosiano é o próprio mundo dos personagens,não um lugar que causa a miséria,a pobreza dos personagens como os de Graciliano Ramos,e sim um lugar ideal para a reflexão psicológica dos personagens de Rosa sobre o existencialismo da vida,sobre temas ambíguos que estão presentes em todos os homens(como a existência do diabo,ou de Deus;). Ou seja,seus personagens não serão enxergados apenas pelo seu costumes,e sim também pelos seus conflitos internos e sentimentos. Com isso o sertão de Rosa será um universo mítico e supersticioso,seus personagens terão crenças politeístas e serão umbandistas e espíritas.O linguajar de Rosa será uma mistura do real,do irreal e universal.

Prosa de Rosa
Guimarães Rosa aboliu a diferença que a prosa tinha com a poesia, em seus textos ele apresenta estruturas como as rimas, aliterações, onomatopéias etc. Na sua obra se preocupa mais com o conteúdo do que em como é feito, através de funções ortográficas, fazendo a escrita se aproximar do ritmo da fala com travessões, reticências, exclamações, interrogações e, muitas vezes, vírgulas que separam sujeito e predicado, o que evidencia o rompimento do autor com os padrões gramaticais tradicionais, para aderir a uma estética da liberdade. Todo esse trabalho com a linguagem confere mais força ao imaginário mágico criado em suas "estórias’’.Também, Rosa trouxe uma prosa que abandona as ações dos personagens,para valorizar os estados mentais e as suas reações.

“Suas lágrimas corriam atrás dela, como formiguinhas brancas” 

"Nunca tivera ela amantes! Não um. Não dois. Disse-se e dizia isso Jó Joaquim. Reportava a lenda a embustes, falsas lérias escabrosas. Cumpria-lhe descaluniá-la, obrigava-se por tudo. Trouxe à boca de cena do mundo, de caso raso o que fora tão claro como água suja. Demonstrando-o, amatemático,  contrário ao público pensamento e à lógica, desde que Aristóteles a fundou."  Conto "Desenredo"

Quebra-se as barreiras temporais e com isso há uma perca da noção do tempo. A estrutura temporal continua com os elementos da narrativa e ao mesmo tempo funde com a intemporalidade própria da poesia






O artista ordena o caos (in Grande Sertão: Veredas)
Olhe: conto ao senhor. Se diz que, no bando de Antônio Dó, tinha um grado jagunço, bem remediado de posses - Davidão era o nome dêle. Vai, um dia, coisas dessas que às vêzes acontecem, êsse Davidão pegou a ter mêdo de morrer. Safado, pensou, propôs êste trato a um outro, pobre dos mais pobres, chamado Faustino: o Davidão dava a êle dez contos de réis, mas, em lei de caborje — invisível no sobrenatural — chegasse primeiro o destino do Davidão morrer em combate, então era o Faustino quem morria, em vez dêle. E o Faustino aceitou, recebeu, fechou. Parece que, com efeito, no poder de feitiço do contrato êle muito não acreditava. Então, pelo seguinte, deram um grande fogo, contra os soldados do Major Alcides do Amaral, sitiado forte em São Francisco. Combate quando findou, todos os dois estavam vivos, o Davidão e o Faustino. A de ver ? Para nenhum dêles não tinha chegado a hora-e-dia. Ah, e assim e assim foram, durante os meses, escapos, alteração nenhuma não havendo; nem feridos êles não saíam...Que tal, o que o senhor acha? Pois, mire e veja: isto mesmo narrei a um rapaz de cidade grande, muito inteligente, vindo com outros num caminhão, para pescarem no Rio. Sabe o que o môço me disse? Que era assunto de valor, para se compor uma estória em livro. Mas que precisava de um final sustante!, caprichado. O final que êle daí imaginou, foi um: que, um dia, o Faustino pegava também a ter mêdo, queria revogar o ajuste! Devolvia o dinheiro. Mas o Davidão não aceitava, não queria, por forma nenhuma. Do discutir, ferveram nisso, ferravam numa luta corporal. A fino, o Faustino se provia na faca, investia, os dois rolavam no chão, embolados. Mas, no confuso, por sua própria mão dêle, a faca cravava no coração do Faustino, que falecia...
Apreciei demais essa continuação inventada. A quanta coisa limpa verdadeira uma pessoa de alta instrução não concebe! Aí podem encher êste mundo de outros movimentos, sem os êrros e volteios da vida em sua lerdeza de sarrafaçar. A vida disfarça? Por exemplo. Disse isso ao rapaz pescador, a quem sincero louvei. E êle me indagou qual tinha sido o fim, na verdade de realidade, de Davidão e Faustino. O fim? Quem sei. Soube sòmente só que o Davidão resolveu deixar a jagunçagem - deu baixa do bando, e, com certas promessas, de ceder uns alqueires de terra, e outras vantagens de mais pagar, conseguiu do Faustino dar baixa também, e viesse morar perto dêle, sempre. Mais dêles, ignoro. No real da vida, as coisas acabam com menos formato, nem acabam. Melhor assim. Pelejar por exato, dá êrro contra a gente. Não se queira. Viver é muito perigoso...
    --Guimarães Rosa

4 comentários:

  1. esse texto é muito bom,explica perfeitamente oque voce procura

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  2. Estava muito envolvida no texto até que encontrei a palavra "perca" no lugar de perda.

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  3. Tem como alguém me ajudar preciso apresentar sobre oque ele buscava e suas obras o pq é seu tipo de escritura pq não estou entendendo muito bem

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  4. vocês sabem as características da obra dele "soneto da saudade"?

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